O problema é a preguiça. Quem tem paciência para ler a chamada política de privacidade dos produtos que colocamos em nossa casa? Nós não. Mas devíamos. Vamos nos arrepender no futuro? Talvez, provável. O resultado é que os objetos nos espiam. Eles mapeiam o apartamento colocando o resultado na nuvem, ou seja, nuvens de dados na rede. Eles nos reconhecem. Eles gravam, nos escutam, nos estudam.
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Sobre brinquedos: há uma série de produtos inocentes com os quais os estrangeiros podem entrar em contato com nossos filhos. Aspiradores: Recentemente, a empresa iRobot que produz a Roomba, mapeando a casa e interagindo com o servidor doméstico da Amazon, Echo, disse que os dados poderiam ser compartilhados com outras empresas, sob reserva do consentimento prévio. Outro exemplo de aspirador que o espião é o Botvac D7. Televisões inteligentes: alguns modelos gravam nossos itens com as configurações padrão. Poucos sabem como intervir para bloqueá-los. O que é o consentimento informado? O lado fraco do caso: muitas vezes é o clique com o qual estamos acostumados a não pensar no problema.
Temos que lidar seriamente com questões que estão implícitas no fato de que os objetos se comunicam entre si. Os objetos podem identificar o usuário. Quem produz e gerencia o objeto é responsável por avaliar a privacidade do impacto e, se não o fizer, é suscetível a sanções severas. Isso não é conhecido por instituições ou empresas.
A própria Samsung, na política de privacidade da companhia, alertou para o risco de captura e transmissão de dados sensíveis para terceiros caso a função esteja ligada em 2013, após a revista “Daily Beast” ter divulgado que em vez de usar o controle remoto, o espectador poderia controlar o aparelho apenas pela voz, bastando ligar a função e conectar o televisor à internet, era o suficiente para alguns comandos de voz serem transmitidos para um serviço de terceiros.
A Samsung não é a primeira companhia a enfrentar críticas por causa da coleta de dados dos usuários. Em 2013, consultores encontraram que televisores da LG estava capturando informações sobre os hábitos dos espectadores. A companhia criou uma atualização que permitia aos usuários desligar a coleta, caso não quisessem compartilhar as informações.
“Por favor, esteja ciente que se suas palavras incluírem dados pessoais ou outras informações sensíveis, essa informação estará entre os dados capturados e transmitidos para terceiros pelo uso do reconhecimento de voz”, declarou a Samsung, na ocasião.
Com a nova legislação europeia sobre o DPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), passaremos das palavras (os dados são nossos) aos fatos. Teremos de ser avisados se a informação com a qual estamos lidando foi roubada (hoje ninguém o faz). Mas a experiência ensina que a imposição das leis sobre essas redes, capilares e vírus não será fácil. E há grandes falhas: as empresas que oferecem comandos de voz garantirão que nossas vozes sejam mantidas em seus servidores. Não há direito de cancelá-los quando revogamos o consenso ou alteramos os produtos. Talvez também sejam nossas impressões, nossos rostos e pensamentos uma vez concedidos: perdidos, para sempre.
Fonte: MSN, O Globo
“O que não me contam eu escuto atrás das portas.”
- Dalton Trevisan -