domingo, 7 de fevereiro de 2016

Marido pagou pelo assassinato e ela apareceu no funeral


Ela deveria estar morta, o marido pagou quase sete mil dólares australianos (cerca de 4500 euros) para que ela fosse morta, mas apareceu no "próprio" funeral.


elfandarilha
Foto ABC News


Noela Rukundo, mora em Melbourne, Austrália, cinco dias antes do sequestro  havia retornado ao Burundi, seu país de origem, para o funeral de sua madrasta. 

No início da noite Noela estava descansando em seu quarto de hotel, cochilando no calor sufocante na cidade de Bujumbura seu telefone tocou. Era uma chamada da Austrália - de Balenga Kalala, o marido e pai de seus três filhos mais jovens.

"Ele diz que ele esteve tentando me falar por todo o dia", diz Noela. "Eu disse-lhe que estava indo para a cama. Ele perguntou: "Para a cama? Por que estão dormindo tão cedo"?

"Respondi, 'Eu não estou me sentindo feliz". E ele me pergunta: "Como está o tempo? É muito, muito quente? Ele me disse para ir para fora para o ar fresco.'"

"Achei que ele estava preocupado comigo".

No momento seguinte ao sair para fora do complexo do hotel encontrou-se em perigo.

Veio um homem em sua direção e apontou-lhe um arma.

"Ele apenas me disse": 'Não grite. Se você começar a gritar, eu vou atirar em você. Eles vão me pegar, mas você? Você já estará morta.'

"Então, eu fiz exatamente o que ele me disse."

Noela foi levada para um carro que estava à espera. Foi colocada entre dois homens e teve os olhos vendados. Não lhe disseram mais nada, apenas uma ordem ao motorista: "Vamos".

Trinta ou quarenta minutos depois, o carro parou, Noela foi empurrada para dentro de um edifício e foi amarrada a uma cadeira. Um dos sequestradores disse ao comparsa: "Vá chamar o chefe". 

"Eu podia ouvir portas sendo abertas, mas não sei se o chefe veio de fora ou se estava em outra parte do edifício", diz Noela.

"Eles me perguntam": 'O que você fez a este homem? Por que este homem nos pediu para matá-la?' E então eu lhes digo: 'Que homem? Porque eu não tenho nenhum problema com ninguém.' Eles dizem, 'seu marido!' Eu digo, 'Meu marido não pode me matar, você está mentindo!'" E então eles me bateram.

"Depois o chefe disse, 'Você é muito estúpida, você é tola. Deixe-me telefonar a quem nos pagou para matá-la."

Ao telefone o líder do grupo diz triunfalmente, "Já temos ela". O telefone foi colocado em alta voz para Noela ouvir a resposta.

A voz de seu marido disse: "matem-na".

"Eu ouvi a voz dele. Eu o ouvi. Eu senti como se minha cabeça fosse explodir."

"Então eles descreveram para ele, onde eles estavam indo livrar-se do corpo."

Com isso, Noela diz que desmaiou.

Ele originário da República Democrática do Congo, Balenga Kalala, chegou à Austrália em 2004 como refugiado, após fugir de um exército rebelde que tinha invadido sua aldeia, matando sua esposa e filho.

Estabeleceu-se em Melbourne, logo encontrou um emprego estável, primeiro em uma fábrica de processamento de frutos do mar, em seguida, em um armazém como operador de empilhadeira.

"Ele já podia falar inglês" lembra Noela, que também chegou à Austrália em 2004. O assistente social de ambos ajudava a traduzir o Swahili.

Os dois se apaixonaram, fixaram residência no subúrbio de Kings Park. Noela era mãe de cinco filhos de um relacionamento anterior e teve mais três com Kalala.

Ela admite que sabia que ele era um homem violento, mas não a ponto de mandar matá-la. "Amei este homem com todo meu coração, dei-lhe três filhos bonitos, eu não sei por que ele escolheu me matar".


Noela foi salva.

O encarregado de matá-la disse-lhe que havia recebido o dinheiro em novembro e ela foi para a África em janeiro.

"Não vamos te matar. Não matamos mulheres e crianças". E perguntou: "O quão estúpida você é, se eu fui pago em novembro e você não percebeu que algo estava errado?"

O líder da quadrilha ainda aproveitou para extorquir mais dinheiro de Kalala. Telefonou-lhe e disse que o valor havia aumentado.

Depois de dois dias de cativeiro Noela foi libertada, deram-lhe dinheiro, um telefone e um cartão de memória, evidência para incriminar Kalala, contendo conversas telefônicas gravadas dele discutindo o assassinato e recibos para a transferência do dinheiro.

"Nós damos-lhe 80 horas para deixar o país'", Noela diz que o líder da gangue disse a ela. " 'O seu marido é mau. Talvez possamos poupar sua vida, mas outras pessoas, eles não vão fazer a mesma coisa. Se Deus lhe ajudar, você conseguirá voltar para a Austrália.'"

"Nós só queremos que você volte, para dizer às outras mulheres estúpidas que aprendam com o que lhe aconteceu", disse o líder a Noela quando se separaram. "Você tem que aprender alguma coisa: vocês tem a chance de ir para o exterior para uma vida melhor, mas o dinheiro que vocês estão ganhando, o dinheiro que o governo dá a vocês, vocês usam para matar uns aos outros."

Noela imediatamente começou a planejar seu retorno para a Austrália. Ela ligou para o pastor de sua igreja em Melbourne, Dassano Harruno Nantogmah, e pediu sua ajuda.

" 'Foi no meio da noite. Eu disse:' Sou eu, eu ainda estou viva, não diga a ninguém. ' Ele diz: "Noela, eu não acredito nisso. Balenga não pode matar alguém! ' E eu disse: "Pastor, acredite em mim! '"

Sua voz sempre vem para mim no meio da noite - "matem-na, matem-na'.

Três dias depois, na noite de 22 de Fevereiro de 2015, Noela estava de volta a Melbourne.

Ficou diante de sua casa à espera dos últimos enlutados saírem para confrontar o seu carrasco. "Foi por volta de 19:30", diz Noela "Estava em frente à casa. As pessoas estavam saindo e ele encaminhava-se com um grupo a um carro."

Quando as pessoas afastaram-se Noela apareceu e surpreendeu-o. "Eu fiquei apenas olhando para ele. Ele estava com medo, não acreditava no que via. então começou a caminhar em minha direção, lentamente, como se estivesse andando sobre vidro."

"Ele continuou falando para si mesmo e quando me alcançou, me tocou no ombro. Ele deu um salto".

"Ele novamente tocou meu ombro e novamente um salto e disse: 'Noela é você? Então ele começou a gritar 'Eu sinto muito por tudo'".

Noela chamou a polícia que ordenou a saída de Kalala da casa e mais tarde obteve uma ordem judicial contra ele. Dias mais tarde, orientada pela polícia Noela o chamou. Kalala confessou que havia ordenado o assassinato e pediu perdão.

Ele alegou que ordenou o assassinato por ciúmes, achou que poderia ser trocado por outro. Para a polícia ele nega o envolvimento no crime, quando confrontado com a gravação da conversa por telefone com Noela e as provas que lhe foram entregues pelo líder da gangue começou a chorar.

Em 11 de dezembro de 2015, um tribunal em Melbourne, depois de se declarar culpado de incitação ao assassinato, Kalala foi condenado a nove anos de prisão.

Para Noela, apesar dele estar preso restaram os pesadelos que agora a afligem. "Sua voz sempre vem à noite - matem-na, matem-na".

"Mas eu vou me levantar como uma mulher forte. Minha vida passada, se foi. Estou começando uma vida nova".


Fonte: BBC


"Quanto melhor é uma pessoa, mais difícil se torna suspeitar da maldade 
dos outros." - Cícero -